Quando digo quem
eu sou, as pessoas me olham.
Quando digo quem
eu sou, muitas pessoas me olham estranho, como se eu fosse um tipo suave de
aberração. Quando digo que sou feminista, muitas pessoas me olham como se eu
pregasse que o machismo inverso, não, só luto por direitos iguais. Quando digo
que sou a favor do casamento LGBT, as pessoas me olham como se eu quisesse
destruir a família delas, não, só quero que meus filhos possam se casar com
quem eles amam, independente de suas orientações sexuais. Quando digo que sou
de movimentos sociais, as pessoas me olham como se eu quisesse saquear e tirar
tudo o que elas conquistaram, não, só quero que as pessoas possam ter as três
refeições diárias e uma noção de política.
Quando digo que
sou estudante de física, as pessoas me olham como se eu fosse um tipo mais
forte de aberração, não, só quero entender como o universo funciona. Quando
digo que curso licenciatura, as pessoas me olham como se eu quisesse ser pobre,
não, só quero lutar por uma educação mais digna neste país e tentar fazer a
diferença como educadora. Quando digo que sou ateia, as pessoas me olham como
se eu fosse queimar a primeira igreja que visse pela frente, não, só não
acredito no teu deus.
Quando digo que
gosto de rock, as pessoas me olham como se eu fosse uma completa drogada sem
rumo, não, só gosto das músicas e elas fazem muito mais sentido que
tchetchereretchetche. Quando digo que gosto de assistir Pretty Little Liars,
The Vampire Diaries, as pessoas me olham como se eu fosse a garota mais patricinha
que elas conhecem, não, ainda não declarei a vocês meu amor por The Big Bang
Theory ou Game of Thrones. Quando digo que amo ler, as pessoas me olham como se
eu fosse extremamente nerd, não, eu amo ler e leio por diversão. Quando digo
que gosto de festas, as pessoas me olham como se eu pegasse geral, não, eu
gosto de festas e de me divertir, não de passar o rodo.
Quando digo que
meu melhor amigo é um homem, as pessoas me olham como se nós ficássemos, não,
ele é meu amigo, somente isto. Quando digo que sou gaúcha, as pessoas me olham
como se eu fosse arrogante, não, o fato de eu ser arrogante, ou não, não tem a
ver com o local em que nasci. Quando digo que sou panambiense, as pessoas me
olham como se eu vivesse para o trabalho, não, gosto tanto de festa quando
qualquer outra pessoa.
Quando digo que
sou mulher, as pessoas me julgam incapacitada para algumas atividades, não, se
eu quiser fazer algo, eu me viro. Quando digo que tenho 19 anos, as pessoas me
menosprezam por acharem que não tenho experiência de vida, não, tenho 19 anos e
ano que vem me formo na faculdade. Quando digo que namorei por mais de 2 anos,
as pessoas me olham com se dissessem ‘já iam se casar, que pena’, não, não
estava mais dando certo, não iria me casar com alguém que não estava mais
aguentando.
Quando digo quem
sou, as pessoas me olham.
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